segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Rotina poética do jornalista



Em 2016, produzi para o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (Mestrado) da Universidade Federal de Pelotas o registro do meu território enquanto jornalista. No caso, o ambiente da redação do jornal Diário Popular, situado em Pelotas-RS. As redações de jornais impressos não costumam ser visitadas pelo público em geral. São lugares praticamente secretos, esconderijos para onde os repórteres se refugiam após voltar das pautas: o abrigo da escrita. 
Os jornalistas dos veículos impressos têm apenas seu nome assinado junto das matérias. Não há outras maneiras de reconhecê-los ou identificá-los. Seus rostos não invadem as casas das pessoas. Esse anonimato também é compartilhado com outros colegas de profissão, como radialistas e assessores de imprensa.


O vídeo acompanha o trajeto de entrada no jornal e o labirinto até chegar à redação, localizada no segundo andar. Observa-se uma sala ampla, retangular, opaca, habitada por mais de 30 pessoas em seus pequenos espaços, quase cubículos. É um lugar sem vida, monocromático, na sua maioria em tons de bege. O meu canto, entretanto, destaca-se em meio à paisagem apática ao apresentar traços de personalidade, principalmente influenciados pela relação com a cultura.


Revela-se ainda o ambiente de produção e, também, o processo de escrita e o caminho até a publicação. Estão ali as páginas dos blocos de anotações, o digitar incessante no teclado, a formação de frases na tela do computador, as tintas da gráfica e a gravação das páginas impressas no setor de máquinas. Todo um processo até o jornal estar pronto para sua distribuição.


O trabalho audiovisual oferece potência àquele fazer que não é notícia, aos bastidores de uma prática que apresenta forte impacto social, oferecendo um olhar poético para esse oficio e para o espaço em que é desenvolvido. Busca ativar o olhar sensível para diferentes rotinas, uma vez que existe poesia em qualquer tarefa, mesmo sendo cotidiana e repetitiva.

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