sexta-feira, 27 de novembro de 2020

"Cartada final", de John Grisham


Afinal, qual foi "a cartada final"? Eis aqui mais um caso de tradução bizarra de título. No original, "Os guardiões", que faz total sentido, uma vez que remete ao trabalho dos advogados que defendem pessoas inocentes que estão no corredor da morte. 

O livro de John Grisham utiliza uma argumento poderoso para desenvolver seu novo exemplar de thriller jurídico. A crítica social surge em alguns momentos, mas não é a tônica do projeto. O autor foca mais na investigação, a fim de manter o leitor fisgado do início ao fim. 

Em compensação, Grisham empolga-se por demais e inclui elementos que não são críveis em uma narrativa inspirada em história real. O escritor chega a criar subtrama que envolve uma casa assombrada, algo totalmente descartável. 

"Cartada final" encerra com a sentença do júri, mas não oferece desdobramentos. Poderia ter sido mais enfático na sua mensagem política, mas perde a oportunidade. Ademais, as soluções para um mistério de mais de 20 anos são simplistas. Não há como negar a habilidade do autor em desenvolver uma narrativa envolvente, mas, no fim, parece mais caça-níquel do que obra preocupada em transformar a sociedade. 


BOM
27/2020

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

"Como Woody Allen pode mudar sua vida", de Éric Vartzbed

Adquiri este livro em 2016, assim que foi lançado no país, mas não consegui persistir na leitura. Não era o que eu esperava. Neste "ano literário", decidi oferecer uma nova chance para "Como Woody Allen pode mudar sua vida" e aproveitei muito mais a visão de Éric Vartzbed para os filmes de um dos meus diretores favoritos. 

O autor concede uma análise psicológica para os personagens de dezenas de longas-metragens de Allen. Não chega a ser autoajuda, como o título pode induzir. São pensamentos interessantes, organizados tematicamente. Já me cativou pelo fato do filme "A outra", meu preferido, ser o ponto de partida do livro e, também de diversas perspectivas. 

Mesmo tendo míseras 80 páginas, esta foi a obra da minha modesta coleção que mais sublinhei trechos. A leitura, certamente, desperta a vontade de (re)ver a filmografia completa do cineasta.


MUITO BOM
26/2020

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"A cidade dos hereges", de Federico Andahazi


Em "A cidade dos hereges", Federico Andahazi crava o dedo numa das principais feridas da humanidade ao realizar uma feroz crítica à Igreja Católica. A leitura é pesada e oferece constantemente um gosto amargo. A trama inclui estupros e mortes variadas, inclusive uma Via Crúcis. É tanta violência que dói o peito em certas páginas. Tudo transcorre em nome da fé. 

O escritor argentino utiliza o mito do Santo Sudário de Turim como fio condutor da narrativa. A partir deste objeto, escancara-se o quanto a religião é feita pelos homens, na maioria ardilosos em suas ações em busca da dominação. 

O resultado é fascinante, mas o livro tem seus pontos fracos: parágrafos muito longos e descritivos, sendo alguns trechos redundantes e/ou preciosistas. As passagens que envolvem o manuscrito de Christine são cansativas, por exemplo, e enfraquecem o ritmo da narrativa. Também há um atropelo dos acontecimentos nas últimas páginas. 

Mesmo com algumas derrapadas na construção, a maioria da parte técnica, "A cidade dos hereges" é poderoso e sua mensagem reverbera por muito tempo depois do término da leitura.  


MUITO BOM
25/2020

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Quotes SFU - 22


É o aniversário de Nate e ele está olhando um álbum de fotografias antigo. O pai dele aparece. 
Nathaniel: O dia que eu fiz 40 anos, você estava na Europa. Passei o dia imaginando se você telefonaria...
Nate: Sinto muito
Nathaniel: Não se desculpe. Você fez o que precisava
Nate: Tantas coisas aconteceram desde que essas fotos foram tiradas. Tantas. Pensar em meus 40 anos...
Nathaniel: Os próximos 40 anos passam mais depressa. Eles passarão sem que você perceba. 
Nate: O tempo voa quando nos divertimos, não é?
Nathaniel: Não. O tempo voa quando fingimos nos divertir. 


Six Feet Under S05E03

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

"O menino do pijama listrado", de John Boyne

Na onda de conhecer mais obras de John Boyne, optei por reler o título que o tornou famoso mundialmente. E é compreensível o porquê de "O menino do pijama listrado" ter sido um sucesso. A premissa de duas crianças conversando através da grade de um campo de concentração nazista é muito potente. 

Nas páginas, o autor oferece diálogos curiosos e boas reflexões. Porém, carece de uma mão mais pesada e crítica para desenvolver - ou aprofundar - certas questões. Parece que a ideia se esgota rápido, o que faz o livro ser concluído com menos de 200 páginas. Talvez a proposta de ser "infanto-juvenil" tenha freado essa abordagem, deixando a sensação de que "O menino do pijama listrado" poderia ter sido esplêndido, memorável, um clássico. Ainda assim, segue uma ótima leitura. 


MUITO BOM 
24/2020

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

"Intérprete de males", de Jhumpa Lahiri


Nove contos sobre pertencimento, raízes, imigração e relações culturais integram "Intérprete de males", obra vencedora do Prêmio Pulitzer em 2020. O grande destaque é a escrita esplêndida de Jhumpa Lahiri, que, com poucos parágrafos, consegue segurar totalmente a atenção do leitor a partir de um olhar sensível para assuntos potentes. 

O livro reúne momentos inspiradíssimos, como o conto de abertura "Uma questão temporária", e outros nem tanto, vide "Uma casa abençoada". Vale destacar "Quando o sr. Pirzada vinha jantar", "Sexy" e o otimista "O terceiro e último continente". O gosto amargo surge pela forma abrupta como a escritora decide encerrar suas histórias, geralmente provocando frustração. 


BOM
23/2020

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Quotes SFU - 21

"Toda vez que você tenta ter uma vida normal, você estraga tudo. Você nunca terá o momento 'felizes para sempre'. Não importa quantos véus você vista. Você não serve para isso. Aceita, em vez de tentar ser o que você não é" - Lisa para Brenda, no seu dia de casamento 


Six Feet Under S05E01

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Som e fúria - a célebre frase de "Macbeth"


"A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado"

William Shakespeare

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

"Macbeth", de William Shakespeare


Depois de inúmeras tentativas sem sucesso, "Macbeth" se apresenta como minha primeira experiência completa com Shakespeare. Consegui vencer a dificuldade (ou estranheza) do linguajar do século 16 e fiquei fascinado com o formato teatral, sendo possível imaginar as cenas ganhando vida em um palco vitoriano. 

Este é um dos textos mais curtos do autor inglês, talvez por isso senti um atropelo nos acontecimentos. Já conhecia a história a partir da adaptação literária infanto-juvenil e do filme recente estrelado por Michael Fassbender e Marion Cottilard. Aliás, tenho um fascínio pelos acontecimentos envolvendo o general do exército Macbeth, sua esposa maquiavélica, o colega Banquo, o rei Duncan e as três bruxas proféticas. Por este envolvimento, acreditava que iria me deparar uma "vilã" mais atuante na trama, por exemplo. 

"Macbeth" oscila entre uma linguagem acessível e dinâmica com aforismos rebuscados, principalmente em trechos que personagens tendem a filosofar sobre suas ações. Por vezes, torna-se artificial e enfadonho. Mas, como tudo é resolvido rapidamente, não faz desanimar. Quero avançar em mais leituras de Shakespeare em 2021!


MUITO BOM
22/2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Quotes SFU - 20

Brenda: Eu senti a sua falta. Nessa situação... (doença e enterro de seu pai)
Nate: Eu também senti a tua falta. Eu não sei o quanto eu mudei, estando com você. Quanto você me fez crescer como pessoa. Eu não seria o que eu sou hoje se eu não tivesse te conhecido.
Brenda: Você me mudou também.
Nate: É mesmo? Como?
Brenda: Você foi a primeira pessoa que eu perdi e me custou algo. Por isso, eu nunca mais estive com ninguém.
Nate: Ninguém?
Brenda: Eu tenho pavor de estragar tudo de novo.
Nate: Você vai encontrar alguém.
Brenda: Essa não é a solução. Você sabe o que eu acho?
Nate: Sobre o quê?
Brenda: Eu não sei. Sobre a vida.
Nate: O quê?
Brenda: Eu acho que é uma questão de sincronia (timing). Sincronia é tudo.
Nate: Você pode ter razão.


Six Feet Under S03E07

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

"Southernmost - Rumo ao sul", de Silas House


"Southernmost" é uma história sobre mudança de perspectiva a respeito da vida. Asher percebe que, depois de anos sendo pastor em uma comunidade isolada e conservadora, não pode viver sobre aquilo que não acredita: valores da igreja, cultura de ódio e falsidade. O estopim é o preconceito a um casal homossexual que se muda para o local. A partir dessa mudança, Asher pega estrada junto do filho para a ilha de Key West, o ponto mais ao sul dos Estados Unidos, a fim de tentar se aproximar do irmão gay que renegou no passado. 

O livro de Silas House aborda vários temas urgentes de maneira leve. Utiliza da ficção para transmitir sua mensagem de aceitação da diferença, o que por si só já é poderoso. Esperava que o casal homossexual recém chegado no vilarejo fosse mais desenvolvido nas páginas, gerando uma "guerra" na cidade. Mas, o protagonista foge do confronto, tornando-se uma escolha curiosa da narrativa. Pois, o foco de "Southernmost" é a figura de um sujeito repassando suas escolhas e tentando reverter o tempo perdido para dar lugar ao que realmente importa: o amor. 

observação: Minha única crítica vai para o irmão do pastor, Luke, que se tornou padre (?!) e não recebe merecido desenvolvimento na trama. 


MUITO BOM
21/2020

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

"Condado de Essex", de Jeff Lemire


Graphic novel em três volumes, "Condado de Essex apresenta histórias independentes que são conectadas ao final, quando uma árvore familiar é revelada. O desenrolar é sufocado por uma atmosfera melancólica, na qual todos personagens carregam tragédias. Estaria no sangue das várias gerações? 

O destaque vai para o talennto de Lemire em transmitir os sentimentos de seus protagonistas através dos quadrinhos. Por vezes, impressionante. Os dois primeiros volumes são mais interessantes. O terceiro perde em ritmo e força, sem concluir no auge. Vale a experiência, porém sem altas expectativas. 

BOM
20/2020

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Quotes SFU - 19

Brenda: Eu não quero odiar meus pais mais do que eu já os odeio.
Scott: Você vai acabar perdoando os dois.
Brenda: Também não quero fazer isso. Não quero ser uma dessas pessoas horríveis que sofrem o tempo todo.
Scott: E nos momentos em que sofre?
Brenda: Escolho não sofrer.
Scott: Qual é o problema de sofrer um pouco?
Brenda: Eu sinto que vou morrer.
Scott: Você não morre.


Six Feet Under S02E13

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Principal ensinamento de "O garoto no convés"

"Quem tem confiança em si não precisa lembrar os outros do seu status social superior, mas os que não a têm acham necessário nos empurrar isso goela abaixo vinte vezes por dia"

John Boyne

domingo, 1 de novembro de 2020

"O garoto no convés", de John Boyne

Ao redescobrir John Boyne esse ano, resgatei a minha cópia de "O garoto no convés" adquirida em 2009, logo após  o sucesso de "O menino do pijama listrado". A leitura confirmou que o escritor irlandês possui um jeito fluído e envolvente com as palavras. Suas narrativas despertam curiosidade e tornam a leitura voraz. 

O romance é baseado no episódio verídico de 1789: o motim do navio Bounty. Os fatos são apresentados pelo ajudante do capitão, a partir de um viés novelesco. São quase 500 páginas para um trama interessante, porém previsível e, por vezes, repetitiva - principalmente ao abordar o traumatizante passado do protagonista. De qualquer forma, o passatempo é garantido e, de quebra, sabe-se mais sobre um relato de sobrevivência que entrou para a História. 


observação: bizarra a tradução do título para português, uma vez que, no original, é "O motim do Bounty" ("Mutiny on the Bounty"). "O garoto no convés" provavelmente foi escolhido pela Companhia das Letras a fim de pegar carona do livro mais famoso do escritor. 


BOM
19/2020