terça-feira, 21 de setembro de 2021
domingo, 5 de setembro de 2021
"1793"
Se "1793" estiver em uma prateleira, certamente, será um dos livros mais perturbadores ali presentes. A estreia do escritor sueco Niklas Natt och Dag oferece um retrato da imunda e violenta Estocolmo no século 18. Acompanha-se a investigação de um crime chocante a partir de quatro personagens fundamentais para a trama: o advogado moribundo Cecil Wing, o sentinela bêbado Mickel Cardell, a jovem órfã Anna Stina Knapp e o aprendiz de cirurgião (e também golpista) Kristofer Blix. O caminho destas trágicas figuras acompanhará mortes, práticas de tortura, amputações, estupros, decapitações, tentativas de aborto e de automutilação. Não falta sangue escorrendo pelas páginas do livro.
Niklas poderia ser chamado de sádico em se munir de temáticas nauseantes, porém é extremamente habilidoso em engendrá-las a favor de um instigante mistério que se completa com maestria - e ainda oferece interessantes reviravoltas. Seu talento entrega também uma atmosfera pútrida, cujo fedor exala do livro aberto, para o passado da capital da Suécia, sendo fiel à sujeira e à crueldade do período histórico. Tal ambientação escatológica lembra a de "O perfume", de Patrick Süskind, enquanto a trama flerta com os romances sombrios e eróticos do argentino Federico Andahazi.
"1793" se tornou um fenômeno internacional e ainda recebeu diversos prêmios literários na Europa. Já ganhou a continuação "1974" (ainda inédita no Brasil) e deve ser finalizado como trilogia. De qualquer forma, o primeiro título é uma história concluída, sem necessidade dos demais. O resultado obtido por Natt och Dag (curiosamente, traduzido como 'noite e dia') é um thriller repulsivo e fascinante.
MUITO BOM
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O cultpop MAX:
- MaxCirne
- Viciado em cultura pop, cresceu assistindo filmes e imaginando estar em uma produção de Woody Allen. É admirador de pop arte, de um bom drink e dos livros de Nick Hornby. Não consegue montar um cubo mágico sem ficar frustrado e com vontade de jogá-lo longe. Tem o sonho de morar em Paris no apartamento dos “Sonhadores” e entregar-se ao prazer hedonista. Gosta de dirigir curtas-metragens e brincar com a câmera. Não aprende que deve parar de assistir tantos seriados ao mesmo tempo. Ama o cinema de Tarantino, Wes Anderson e Tim Burton. Precisa viver com trilha sonora, por isso, não dispensa as músicas de The Killers, She & Him e Mika. É jornalista, crítico, cinéfilo e twitta no @maxcirne.